
Paulo Pinheiro
Mais dicas para aulas on-line

Na coluna anterior, a discussão foi em torno do modelo híbrido. Já que essa prática deve permanecer por algum tempo, ela levanta algumas questões importantes. Uma delas é como manter o engajamento. Muitos professores conhecem recursos para motivarem os alunos em uma aula presencial. Mas nem sempre isso pode ser aplicado de forma equivalente no mundo on-line.
Então é hora de mostrar mais algumas dicas para manter os alunos envolvidos nas aulas on-line. A primeira delas ilustra bem uma das principais diferenças entre EAD e aula presencial.
Não use somente tarefas de leitura
Tente, ao longo do tempo, mesclar atividades que envolvam leitura com o consumo de vídeos. Uma maneira simples de obter um conteúdo adequado para a sua aula é entrevistando um especialista no tema que você pretender debater. Grave, por exemplo, a entrevista no Zoom. Se possível, edite trechos da conversa em pequenos clipes. Normalmente, os alunos tendem a concentrar e gravar mais o que foi exposto.
Durante a aula: cuide do tempo
A chave aqui são sessões de 20 minutos. É um tempo razoável para um debate. Como professores, queremos continuar mudando o tema sem deixar de nos concentrar no assunto. Isso, é claro, faz a discussão avançar. Existem diferentes maneiras de fazer isso e, para aulas on-line, elas são escalonáveis − em outras palavras, se você tem 70 ou 700 alunos, você ainda pode torná-lo bastante simples e pessoal. A questão do domínio do tempo é tão importante que será tema de uma outra coluna.
Foco na tarefa
No início de cada sessão, seja em sua própria mente ou em voz alta para seus alunos, declare: "Nos próximos 20 minutos, estarei focado na minha tela e nos alunos on-line enquanto fazemos a atividade." E, pelos próximos 20 minutos, concentre-se em seus alunos, compartilhando sua atenção ao redor da "sala".
Mostre o que você tem
Outra opção é mostrar e contar (show and tell). O professor explica uma teoria e diz: "Você tem cinco minutos para encontrar um item em sua casa ou uma imagem em seu computador que corresponda a essa teoria em particular." Além de estimular a criatividade dos alunos, é importante ficar atento à justificativa que os estudantes vão dar para a escolha de cada objeto em particular. Isso serve também para verificar se eles compreenderam efetivamente o que foi explicado.
Faça os alunos decidirem se haverá pausa
No método do caso, algumas aulas chegam a durar três horas. Então, pausas são bem-vindas. Claro que se você disser aos alunos: “Aqui estão 15 minutos, façam o que quiserem”, então provavelmente eles iriam checar o e-mail, dar uma olhada nos grupos de Whatsapp, conferir as notícias e acabariam "fora do ar" por 20 minutos ou mais. Para piorar a situação, é bem difícil fazer com que eles voltem para a aula, especialmente quando, no ambiente virtual, o cérebro tende a rapidamente se dispersar.
Em vez disso, aproveite para fazer um trabalho em grupo. Coloque as pessoas em equipes. Em seguida, diga aos alunos que a primeira tarefa, a primeira pergunta a que precisam responder é se querem ou não fazer uma pausa. Mais importante ainda: os estudantes − mediante uma negociação entre cada grupo − também estabelecem quantos minutos vão ficar parados.
Ou seja, reserve 30, 40 minutos para o trabalho em grupo. Mas deixe claro que cada equipe tem a liberdade de escolher uma pausa maior ou menor. O detalhe fundamental é que os alunos decidem quantos minutos vão retirar para fazer uma pausa. Normalmente, o que acontece é que os intervalos tornam-se muito mais curtos, porque agora eles se sentem responsáveis por um grupo de pessoas.
Cada uma dessas dicas pode e deve ser alterada em função dos interesses e particularidades da sua aula. Mas o importante é sempre tentar manter os alunos envolvidos nas aulas on-line. A tarefa, na maioria das vezes, é árdua. Porém, se os estudantes estiverem engajados, a experiência será memorável.
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Paulo Pinheiro é doutor em comunicação social pela Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul (PUC-RS) e instrutor do método do caso, com formação na Universidade Harvard, nos Estados Unidos. Professor há mais de 15 anos, lecionou na Escola Superior de Propaganda e Marketing (ESPM Sul) e na Universidade de Santa Cruz do Sul (Unisc). Sua tese de doutorado trata de algoritmos e comunicação. Como jornalista, trabalhou no ZH Digital, embrião do atual clicRBS; coordenou o setor de comunicação do Sindicato Médico do Rio Grande do Sul (Simers); e foi editor de capa do portal ClicRBS e do portal Terra. É graduado em jornalismo pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) e bacharel em direito pela PUC-RS. Atualmente trabalha como produtor de conteúdo da 818 Game Academy.
O artigo acima é de responsabilidade do autor e não reflete necessariamente a visão do Educa 2022.